Em 2024, o karatê brasileiro vive um momento de efervescência, marcado por conquistas históricas, a consolidação de nomes veteranos e o surgimento de jovens talentos que carregam a bandeira do país em competições globais. Em um cenário esportivo desafiador — especialmente após a exclusão do karatê do programa olímpico para Paris 2024 —, os atletas do Brasil transformaram adversidade em combustível, provando que a arte marcial vai muito além dos Jogos.
No circuito internacional, a brasileira Valéria Kumizaki, medalhista de prata no Mundial de 2023, continuou a escrever seu legado em 2024. Especialista na categoria kumite , ela dominou etapas do Karate1 Premier League, principal liga mundial da modalidade, e conquistou o ouro no Campeonato Pan-Americano, realizado no México. Sua técnica ágil e precisão nos golpes a mantêm no top 3 do ranking mundial, consolidando-a como uma das maiores representantes do karatê feminino no planeta. Ao seu lado, Douglas Brose, ícone do kumite , mostrou resiliência após lesões em 2023 e voltou a subir ao pódio em torneios na Europa e Ásia. Sua experiência e estratégia de combate renderam elogios até de adversários japoneses, berço da modalidade.
No kata, disciplina que simula combates coreografados, o Brasil viu brilhar Vinicius Figueira, jovem de 22 anos que surpreendeu no Campeonato Mundial de 2024, realizado na Croácia. Com movimentos fluidos e uma interpretação impecável do kata “Suparinpei”, ele garantiu a medalha de bronze, a primeira do país na categoria em um Mundial desde 2018. “Treinamos para honrar a tradição do karatê, mas também para inovar. Cada gesto tem uma história”, disse Figueira, cuja rotina de treinos em São Paulo inclui sessões diárias de análise de vídeos de mestres japoneses.
A força coletiva também se destacou: a seleção brasileira de kumite por equipes, composta por atletas como Gabriel Vargas e Jessica Dantas, alcançou resultados inéditos no World Games, evento que reuniu esportes não olímpicos. Com uma estratégia agressiva e sincronia impecável, o time garantiu a prata, perdendo apenas para o Irã na final. “Isso mostra que o karatê brasileiro não depende de uma só estrela. Estamos construindo uma geração”, celebrou o técnico Antônio Carlos Pinto, referência na formação de campeões há décadas.
Para além das competições, 2024 ficará marcado pelo avanço do karatê paralímpico no Brasil. Débora Costa, atleta da categoria kata para deficientes visuais, conquistou o bicampeonato mundial em Dubai, repetindo o feito de 2022. Seus treinos, que incluem sensores táteis e orientação por comando de voz, são exemplo de como a modalidade se reinventa para ser inclusiva. Já Daniel Silva, pioneiro no kumite adaptado, usou sua plataforma para pressionar por mais visibilidade: “O karatê é para todos, e vamos lutar até que isso seja realidade em todo evento esportivo”.
Apesar dos resultados positivos, desafios persistem. A falta de patrocínio e a incerteza sobre o futuro olímpico da modalidade após 2024 preocupam atletas e comissão técnica. Mesmo assim, projetos sociais como o “Karatê na Favela”, no Rio de Janeiro, e o “Instituto Shotokan”, em Brasília, seguem formando centenas de crianças, mostrando que o esporte é ferramenta de transformação. “Ensinamos que o karatê não é só sobre vencer, mas sobre respeitar o próximo e nunca desistir”, afirma Luana Santos, medalhista pan-americana e fundadora de um projeto em Salvador.
Em 2024, o Brasil não apenas competiu: inspirou. Seja nos tatames internacionais ou nas comunidades, os karatecas brasileiros provaram que a arte marcial é um caminho de excelência e resistência. Como diz o lema cunhado por Gichin Funakoshi, pai do karatê moderno, e adotado por muitos atletas do país: “Não é sobre derrotar o outro, mas sobre superar a si mesmo”. E nessa jornada, o Brasil segue invicto.